quarta-feira, 28 de março de 2012

E nesses dias, frágil, não deixo a doçura. Sinto uma ausência, ausência essa que me deixa triste. Ausência não sei de que. Mas que me falta algo, falta. Penso que pode faltar um amor. Conhecido ou desconhecido? Se conhecido é a ausência dele que sinto. Se novo, me falta. Quem sabe, quando ele chegar, minha fraqueza já vai ter passado, e assim, eu serei pura doçura para ele amar? Ou com sua chegada, ele faça essa tristeza, ou fraqueza, passar. Já não sei qual leva à outra, ou se são as duas uma só. A doçura mora em mim, me fazendo amar sempre, frágil ou não. As vezes até fico amarga! Mas por culpa dela, da doçura. Na ausência, eu ainda amo. E talvez, até ame mais. O que falta é um amor para me amar. Contudo, eu não estaria triste..

sábado, 17 de março de 2012



- Então, decidiu? Você não vai comprar o livro?


Ele diz isso quase como um desafio. Como se eu não tivesse coragem... Mas que me afeta. E no fim escolho um outro e nem lhe dou resposta. Não dou a menor bola pra ele. Ignoro ele. Não gosto de responder e dar satisfação aos meus pais, imaginem a esse aí! Ando livremente entre algumas prateleiras. Depois resolvo ouvir um CD de James Blunt. All the lost souls. Coloco os fones de ouvido e escolho a música que gosto. Me encontro assim, refletida naquele espelho da pilastra. Começa a música. Sorrio. Sozinho, independente, com um dia todo pra mim... Ah, que bom. Agora começa. Shine on. Eu gosto quando dizem: "Are they calling for our last dance? I see it in your eyes. In your eyes. Same old moves for a new romance. I could use the same old lies, but I'll sing, Shine on, just, shine on!". É verdade mesmo. E assim fecho os olhos. Me entrego e percebo que balanço um pouco... E acompanho o ritmo. Mas quando reabro os olhos, vejo um homem refletido no espelho que me olha. Tem os olhos escuros, jabuticaba, intensos, os cabelos pretos, é alto, magro e mais velho do que eu. De repente, ele sorri para mim. E sinto um aperto no coração. Abaixo os olhos e sinto falta de ar. Mas o que está acontecendo? E quando levanto os olhos novamente ele ainda está ali. Agora os seus olhos me parecem ainda melhores. Vira a cabeça de lado e continua olhando pra mim, assim, com aquele sorriso lindo e um olhar metido. Parece um pouco convencido. Eu não gosto daqueles muito metidos. Mas é tão bonito. Fiquei vermelha, eu acho. Abaixo os olhos novamente. Mas o que está acontecendo? Quando levanto os olhos, ele não está mais ali. Sumiu. Será que foi um sonho? Um sonho lindo. 

quinta-feira, 15 de março de 2012

Montanha Russa


Já o ser inquieto não 
está em nenhum lugar 
porque a inquietação já 
é uma forma de não 
estar nunca estar


que se dirá então 
do ninguém que mora 
em mim por não ter não 
onde morar 
na terra no ar no mar


quem imagina não 
está em si somente 
nem somente onde está 
está de repente 
sem cuspir nem porvir 
numa montanha russa 
só pelo prazer 
perpendicular 
de subir e cair


Ó meu distante amor 
quando eu passar espera-me 
na tua porta não 
te poderei beijar não 
só terei tempo para 
na paisagem em fuga 
entre areia e sal 
te deixar na mão 
uma flor


Espera-me na porta 
se estiveres na lua 
maria azul luz clara 
quando eu passar como 
um peixe voador não 
terei tempo para 
te ofertar sequer 
uma flor


só terás tempo de dizer 
como a mulher de Arvers 
que louco é este 
que chegou da terra e não 
me trouxe sequer 
uma flor



Cassiano Ricardo

quarta-feira, 7 de março de 2012

    • Tudo é incerto e relativo
      nessa vida:

      também eu
      posso ser tão sua

      quanto você jamais
      foi meu.
 
E ele chegou com seus óculos de grau. Foi dele o primeiro gesto. Tocando minha mão, me perguntou como andava a vida.

E eu queria saber responder. Eu poderia, na verdade. Mas é que o mundo gira velozmente agora, entende? E o que eu falo nesse momento, já não é mais o que eu falaria há instantes. Existe tanto a ser dito. Eu não gostaria de, simplesmente... Entende? Não é tão simples assim apertar e acalmar tudo isso num só peito, sem fugir. E eu não gostaria nem de fugir. Quero ficar aqui. O mal que é bem, e não se entende, ou não se vê. Não é simples, entende? E se a palavra escapa, e se o vento fecha olhos e ouvidos, e se ele leva tudo pra outra ponta da margem do sentido? É muito perigosa essa vontade de falar. É preciso autocontrole. Mas, com você, há crianças espoletas despreocupadas e velhos com experiência argumentando cada lado da minha criação e, quem sabe... Entende? O real está além do que se vê, ou não. Eu precisava me perder pra não te perder, e nos perderia?

- Tudo bem... E a sua?