domingo, 21 de outubro de 2012

" Amor não se acaba, morena. Amor fica intacto no espaço e no tempo. A gente é que muda e faz dele fantasia. Abstração. O factual continua com a vida, mas o amor ficou guardado entre o dia em que você me disse que não entendia nada disso de amor, e o dia em que me deu Adeus. Suspenso no ar."

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

‎"Sobre perdas

Porque nada na vida é definitivo
(nem a memória, nem seu sorriso),

aprendi desde cedo a trancar todas as gavetas
e a varrer pra fora de casa certos detalhes
(suas juras, seus vestígios, seus olhares).

Nada nesta vida é seguro:
é sempre melhor perder de uma vez tudo
que ser refém de pequenas ausências no futuro."

(por Filipe Couto. Breves Cantares de Nós Dois, p.17)

segunda-feira, 8 de outubro de 2012


Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.


Sarah Westphal Batista da Silva

"Extremos - pra mim é tudo ou nunca mais...
Não sei ir pra balada sem ficar até o fim da madrugada. Não sei comer só um pãozinho, um chocolate, um nuggets de 4. Não sei beber só um copo d’água. Não sei ser amiga só até a página três nem namorar só pra passar o tempo. Não sei amar pela metade nem odiar de leve. Não sei achar uma pessoa mais ou menos bonita – ou descrevo como linda ou tacho de medonha. Não durmo oito horas por noite – ou são míseras quatro ou uma pré-hibernação de quatorze, dezesseis. Não me exercito regularmente; a cada período de dois anos, passo três meses malhando como louca e o restante fugindo até de caminhadas leves.
Não sei beber socialmente. Passei tanto tempo me encachaçando e, hoje, não tolero uma tacinha de vinho.
Não consigo apenas conviver, aceitar, relevar. Se não defendo sua ideia com toda a força e dedicação, possivelmente ela não vai significar nada pra mim. Se eu não cair de paixão ou de admiração, é quase certo que vou achar defeitos e falar mal, muito mal do ser humano. Ou desprezo o computador ou viro a noite teclando nele.Te amo, te odeio; te quero, te evito; te admiro, te desprezo; te inspiro, te incomodo; te chamo, sumo de você.Mas uma coisa é certa: eu tenho sempre uma opinião!"

Ale Garattoni

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

"Ela diz que não quer – me quer por perto – na real. Tem essa coisa tímida de baixar os olhos e revelar o mundo quando fecha o sorriso. Não tá bem, dá pra ver de longe. Ela faz represa com as pálpebras, pra não deixar sair nada. Os lábios são pequenos e só Deus sabe como o contorno tracejado deles pode ser pintado de um vinho que ela sabe escolher. Não me diz o que tá acontecendo, e eu insisto. Corre as mãos pela cama tentando tatear alguma coisa que nunca esteve ao seu alcance. O peito tá pesado e a etiqueta do vestido incomoda. Dá pra ver que a alergia ainda não passou quando ela espirra ligeiramente enquanto disfarça o que sente. Ela tem disso de guardar pra sentir sozinha, e não se aguentar. Eu queria mesmo é que ela pulasse na minha frente e tirasse tudo de vez – a roupa e as barreiras. Pra ser só minha. Ela tem disso de medir demais as coisas. Eu sou um buraco negro, se a gente parar pra pensar. E ela tem medo. Medo de medir. Medo de pedir. De tentar dessa vez, e cair pra dentro de mim de vez. Se perder. Se encontrar alguma coisa que gostar e decidir ficar. A testa franzida não engana o receio. Eu não vou embora, morena. Dá pra confiar dessa vez, e das outras.
Não tá bem.
A mãe disse que vai embora e o pai abaixou a cabeça. O irmão tá na recuperação e ela acha que ele não passa de ano dessa vez. Ela perdeu umas aulas e não sabe mais se vai conseguir se formar. E ainda tem que trabalhar amanhã. Ela tá cansada, e ainda consegue ficar de pé. Faz parte desse time de mulheres que andam na corda bamba todos os dias – de salto. Perto disso, eu sou nada. Nem desafio, nem insegurança. Se esparrama pela cama e olha pro teto. Só queria sonhar mais um pouquinho, e não queria pensar. Engole ou cospe? Ela segura o choro e tudo mais porque não dá tempo de sentir isso direito. Tá faltando estrela cadente nesse quarto, mas você pode me pedir. Deita aí e dorme. Puxa um cobertor e fica aqui. Eu não gosto muito de dormir junto, mas contigo eu abraço o mundo. Passo a noite em claro pra te ver melhor. É no silêncio que a gente faz amor. E quando você acordar a gente rola na cama e faz cócegas involuntárias. Passa as unhas pelo meu cabelo e sorri pra uma foto tirada no celular. Não tem estrela no teto, mas eu tô no céu contigo. Corre os olhos e morde os lábios. Vem pra cá. Pra sempre ou até durar isso aqui que a gente tem e não tem. Mas eu fico. De buraco negro pra deixar você cair em mim. Cê tá precisando de paz. Mas deixa pra amanhã. Que hoje eu vou te fazer dormir."

terça-feira, 25 de setembro de 2012

"sinfonia da despedida"


"A poucos minutos de encarar você e dedilharmos a melodia mais difícil: a última. O coração batuca. Quase estoura a garganta seca, que teme errar a nota. Unhas intranquilas teclando em cima de mesa. Seu olhar em pause, regendo a minha respiração. Qual o tom certo para uma despedida?

Porque desafinei, sua corda arrebentou. Você cortou o som e me olhou grave. Rasgou nossa partitura, brecou o ritmo.  Eu não soube andar na sua cadência. Eu não leio pessoas de ouvido. Preciso de mais de cem compassos para me colocar em sintonia, de instrumentos para meu ensaio.

Seu olhar, mudez aguda, me força a solar daqui pra frente. Sua distância é microfonia riscando a minha trilha. Meu lado B tocando para uma plateia que só pede a cor da minha voz, ignora o que canto. O volume aumentando para mascarar choro. O coro gritando aguado. Como maestro, você me dá as costas.

A despedida deixou um silêncio chiando. Uma gravação do seu timbre em play no meu travesseiro. Um eco orquestrado do seu rosto arranhando meu sono.
As luzes se apagam. Deixamos o palco sem aplausos. Sem solfejar a vontade de um bis."