terça-feira, 22 de maio de 2012



Querido,
Esta noite sonhei novamente com você. Seus brilhantes olhos me pediam caridosamente para não colocar meus pés gelados de frio na batata da sua perna, enquanto virava para o outro lado da cama embolado nas cobertas. Era engraçado ver sua carinha de resmungão enquanto me puxava com sua delicadeza peculiar para o aconchego dos seus braços.
A cada novo sonho você parece diferente e cada vez sinto você mais longe de mim. É como naquela série de TV em que o príncipe não se lembra da sua identidade, mas de alguma forma sabe onde está o amor da sua vida. Você sabe onde me encontrar, mas se perde demais pelo caminho.
Sinto sua falta. Cada dia mais. E fico me perguntando se a gente precisa mesmo perder alguma coisa pra ganhar algo melhor em troca. Cinderela perdeu um sapatinho, eu já perdi vários pedaços desse meu coração pelo caminho, mas tenho certeza que você vai encontrar todos eles e montar peça por peça como se fosse um quebra cabeça desordenado que precisa apenas de um bom jogador para encarar o desafio.
A noite é curta para um querer tão intenso e no sonho você me desperta com um desses sorrisos lindos e cativantes que a gente só vê em propaganda de pasta de dentes. Você me convenceu: eu compro o produto. Eu levo as coisas boas e as ruins também, porque de uma forma ou de outra eu sinto que esse foi o pacote que eu esperei por toda minha vida. Um sorriso, esse era o sinal. Eu podia me aproximar, me enroscar, me aninhar até que o dia se fizesse presente e nos obrigasse a levantar. Porque tempo hoje é algo quase tão precioso quanto comer, quando não se tem parece que o vazio dentro da gente fica cada vez maior. Consigo ouvir minha respiração e o ruído da saudade.


Estou pensativa, analisando se em algum lugar do planeta você também fecha os olhos quando escuta a palavra amor. É quase dia dos namorados e todo ano espero ansiosamente pela sua chegada, arrumo a casa e a bagunça do coração, coloco os pratos sujos, os copos lascados e as mágoas numa gaveta bem escondida que é pra não estragar o jantar, e junto com as taças novinhas de vinho coloco um frasco vazio que é pra encher de amor quando você se sentar ao meu lado.
A essa altura já tenho dúvidas do que é realidade e o que é fantasia. Me aproximo de você, ali, deitado do outro lado da cama, e no momento do tão esperado beijo, aquele que só acontece com a gente. Eu simplesmente acordo.

Queria que você fosse mais real do que sonho. Afinal, quando um sonho se realiza, é muito melhor.

E fica aqui o meu futuro amor pra te dar.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

A culpa é de quem?

É engraçado como quando a gente tá triste, a gente sofre, sente nosso coração apertadinho, miudinho.. ao mesmo que quando estamos transbordando de amor, sentimos o coração esquisito, querendo explodir, sendo assim, está também apertado, já que não é espaço nesse momento pra sua grandiosidade. Um instante. Quando a gente sofre, sofremos porque estamos transbordando de amor e esse amor por alguma razão não está sendo vivenciado. Se não houvesse o amor, não estaríamos sentindo toda essa dor. Ou seja, a culpa é sempre dele.  

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Pele



Durante todo o dia ela espera pela noite para ser convidada pra sair. Se perder na multidão.. Não há necessidade de falar, sabe.. a música esta tão alta, que parece impossível entender. Curte a música naquele instante.
Até que o sono a leva para uma manhã cheia de dúvidas.


Você pode se sentir como parte de algo se você faz parte da cena. Você pode fazer sua vida ficar bonita por fora com um sorriso. Bem, você pode sair deste vestido de festa, mas você não pode sair da sua pele.
Sua alegria ainda vai ser onde seu coração está. Diz a si mesmo que ele não pode ser sozinho porque ele nunca está por conta própria. Nada, ninguém é feliz sozinho. Pode não parecer, mas de noite entre quatro paredes, com a cabeça doendo, o telefone permanece em silêncio. Até um dia.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Retrato em branco e preto - modificada


Sei que ali sozinho
Eu vou ficar, tanto pior
O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu quero tanto
Evito tanto
E que no entanto
Volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos velhos fatos
Que num álbum de retrato
Parece inovar
Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer
Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever
Pra dizer que isso é pecado
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E você sabe a razão
Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração

Estupor - Paulo Leminski

esse súbito não ter
esse estúpido querer
que me leva a duvidar
quando eu devia crer

esse sentir-se cair
quando não existe lugar
aonde se possa ir

esse pegar ou largar
essa poesia vulgar
que não me deixa mentir