domingo, 21 de outubro de 2012

" Amor não se acaba, morena. Amor fica intacto no espaço e no tempo. A gente é que muda e faz dele fantasia. Abstração. O factual continua com a vida, mas o amor ficou guardado entre o dia em que você me disse que não entendia nada disso de amor, e o dia em que me deu Adeus. Suspenso no ar."

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

‎"Sobre perdas

Porque nada na vida é definitivo
(nem a memória, nem seu sorriso),

aprendi desde cedo a trancar todas as gavetas
e a varrer pra fora de casa certos detalhes
(suas juras, seus vestígios, seus olhares).

Nada nesta vida é seguro:
é sempre melhor perder de uma vez tudo
que ser refém de pequenas ausências no futuro."

(por Filipe Couto. Breves Cantares de Nós Dois, p.17)

segunda-feira, 8 de outubro de 2012


Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.


Sarah Westphal Batista da Silva

"Extremos - pra mim é tudo ou nunca mais...
Não sei ir pra balada sem ficar até o fim da madrugada. Não sei comer só um pãozinho, um chocolate, um nuggets de 4. Não sei beber só um copo d’água. Não sei ser amiga só até a página três nem namorar só pra passar o tempo. Não sei amar pela metade nem odiar de leve. Não sei achar uma pessoa mais ou menos bonita – ou descrevo como linda ou tacho de medonha. Não durmo oito horas por noite – ou são míseras quatro ou uma pré-hibernação de quatorze, dezesseis. Não me exercito regularmente; a cada período de dois anos, passo três meses malhando como louca e o restante fugindo até de caminhadas leves.
Não sei beber socialmente. Passei tanto tempo me encachaçando e, hoje, não tolero uma tacinha de vinho.
Não consigo apenas conviver, aceitar, relevar. Se não defendo sua ideia com toda a força e dedicação, possivelmente ela não vai significar nada pra mim. Se eu não cair de paixão ou de admiração, é quase certo que vou achar defeitos e falar mal, muito mal do ser humano. Ou desprezo o computador ou viro a noite teclando nele.Te amo, te odeio; te quero, te evito; te admiro, te desprezo; te inspiro, te incomodo; te chamo, sumo de você.Mas uma coisa é certa: eu tenho sempre uma opinião!"

Ale Garattoni

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

"Ela diz que não quer – me quer por perto – na real. Tem essa coisa tímida de baixar os olhos e revelar o mundo quando fecha o sorriso. Não tá bem, dá pra ver de longe. Ela faz represa com as pálpebras, pra não deixar sair nada. Os lábios são pequenos e só Deus sabe como o contorno tracejado deles pode ser pintado de um vinho que ela sabe escolher. Não me diz o que tá acontecendo, e eu insisto. Corre as mãos pela cama tentando tatear alguma coisa que nunca esteve ao seu alcance. O peito tá pesado e a etiqueta do vestido incomoda. Dá pra ver que a alergia ainda não passou quando ela espirra ligeiramente enquanto disfarça o que sente. Ela tem disso de guardar pra sentir sozinha, e não se aguentar. Eu queria mesmo é que ela pulasse na minha frente e tirasse tudo de vez – a roupa e as barreiras. Pra ser só minha. Ela tem disso de medir demais as coisas. Eu sou um buraco negro, se a gente parar pra pensar. E ela tem medo. Medo de medir. Medo de pedir. De tentar dessa vez, e cair pra dentro de mim de vez. Se perder. Se encontrar alguma coisa que gostar e decidir ficar. A testa franzida não engana o receio. Eu não vou embora, morena. Dá pra confiar dessa vez, e das outras.
Não tá bem.
A mãe disse que vai embora e o pai abaixou a cabeça. O irmão tá na recuperação e ela acha que ele não passa de ano dessa vez. Ela perdeu umas aulas e não sabe mais se vai conseguir se formar. E ainda tem que trabalhar amanhã. Ela tá cansada, e ainda consegue ficar de pé. Faz parte desse time de mulheres que andam na corda bamba todos os dias – de salto. Perto disso, eu sou nada. Nem desafio, nem insegurança. Se esparrama pela cama e olha pro teto. Só queria sonhar mais um pouquinho, e não queria pensar. Engole ou cospe? Ela segura o choro e tudo mais porque não dá tempo de sentir isso direito. Tá faltando estrela cadente nesse quarto, mas você pode me pedir. Deita aí e dorme. Puxa um cobertor e fica aqui. Eu não gosto muito de dormir junto, mas contigo eu abraço o mundo. Passo a noite em claro pra te ver melhor. É no silêncio que a gente faz amor. E quando você acordar a gente rola na cama e faz cócegas involuntárias. Passa as unhas pelo meu cabelo e sorri pra uma foto tirada no celular. Não tem estrela no teto, mas eu tô no céu contigo. Corre os olhos e morde os lábios. Vem pra cá. Pra sempre ou até durar isso aqui que a gente tem e não tem. Mas eu fico. De buraco negro pra deixar você cair em mim. Cê tá precisando de paz. Mas deixa pra amanhã. Que hoje eu vou te fazer dormir."

terça-feira, 25 de setembro de 2012

"sinfonia da despedida"


"A poucos minutos de encarar você e dedilharmos a melodia mais difícil: a última. O coração batuca. Quase estoura a garganta seca, que teme errar a nota. Unhas intranquilas teclando em cima de mesa. Seu olhar em pause, regendo a minha respiração. Qual o tom certo para uma despedida?

Porque desafinei, sua corda arrebentou. Você cortou o som e me olhou grave. Rasgou nossa partitura, brecou o ritmo.  Eu não soube andar na sua cadência. Eu não leio pessoas de ouvido. Preciso de mais de cem compassos para me colocar em sintonia, de instrumentos para meu ensaio.

Seu olhar, mudez aguda, me força a solar daqui pra frente. Sua distância é microfonia riscando a minha trilha. Meu lado B tocando para uma plateia que só pede a cor da minha voz, ignora o que canto. O volume aumentando para mascarar choro. O coro gritando aguado. Como maestro, você me dá as costas.

A despedida deixou um silêncio chiando. Uma gravação do seu timbre em play no meu travesseiro. Um eco orquestrado do seu rosto arranhando meu sono.
As luzes se apagam. Deixamos o palco sem aplausos. Sem solfejar a vontade de um bis."

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

"Encontrarás talvez, quando tentardes recordar de mim, o nada.

Sentirás somente a estranheza da evasão.


Irão primeiro,


as expressões,


as manias,


as cismas
.

Depois esquecerás,


o som das gargalhadas
,

o cheiro suspenso no ar,


os gestos previsíveis,


O tempo virá - acredite! - e levará consigo, lentamente,


os traços fortes do rosto,


a eloqüência da voz
,

datas, aniversários, a certeza do nome


e a ternura dos meus olhos apaixonados pelos teus.

De nada poderás recordar, é verdade, pois há de ser assim.


No entanto, receberás por todos os dias a visita mais doída:


Terás tão somente saudade
.

E gritarás por dentro, sem som algum."



Bizarria
"sim, eu te amo 
pela delicadeza que me negaste 
e pelos belos olhos azuis 
que não tens. 
amo-te porque nada mudaste em minha vida 
quando podias 
(e eu pedia). 

sim, eu te amo 
porque me relegaste 
à condição de traste 
nesse achados & perdidos 
da rua dos mascates número zero 
à espera de um encontro: 
ponto. 

te amo 
porque jamais compreendeste 
o que é amar 
por nunca teres me reparado de fato 
(ou acordado algum afeto); 
por fugires no terceiro ato 
levando contigo a cantiga 
e o teatro. 

amo-te 
com a volúpia da letra erre 
que sonha tomar o lugar do hífen 
e revelar o teu legado 
no próximo verso: 
amo-te!"

Marcos Caiado

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Você não mostra me querer como os outros caras querem.. por que? Já notei que os seus olhos se mantém firmes nos meus e não descem pro meu corpo, por isso digo. Apesar de achar que você me agarraria pelos olhos se pudesse, afinal, você é homem né? E já percebi que as vezes você suspira quando permite que eu te dê um beijo mais longo. Mas o meu mexer no cabelo não te afeta tanto assim. Você não é um menino desses que transborda testosterona. Em alguns momentos eu gostaria que fosse.. Possui uma conversa que mostra um interesse desinteressado e eu fico confusa, sem saber qual é a sua. Por que você não faz o que a maioria dos garotos fazem?
Eu te encaro enquanto eles me encaram. Você prende a minha atenção de uma forma estranha. Você mente tão bem que eu conseguiria sentar no seu colo e inverter o jogo a meu favor. Será? Você devia ensinar que pra ser homem é preciso calma. Você precisa disfarçar mesmo que o desejo venha. Eles normalmente se entregam com facilidade, e a gente os deixa da mesma maneira. Com isso, sabemos que é só chamar, que eles voltam. Acho que gostamos de ser um pouquinho contrariadas.. Nós sabemos que no final vocês podem ser canalhas, mas no início o apelo tem de ser o diferencial. Você podia ensinar a eles, mas antes, eu quero aprender a ganhar você.

Imagine uma festa, sentiria olhares sobre mim, imaginações. Menos os seus. O seu me atravessaria de alguma forma e me faria largar o ar. O desinteresse disfarçado causa arrepios, mas não se esqueça que odiamos o desprezo. Acho que você me embriagaria com todo esse seu jeito se me levasse pra cama. Ainda nem senti o seu suor, mas já gostei do seu cheiro. Aposto que você não é frio, recuado assim se estivermos sós, sem defesas. E também não sei bem se posso chamar isso de defesa. Para mim, você joga, ataca com o desinteresse. Toda mulher se sente ofendida se não for desejada pelo homem com quem está conversando. Como é que eu posso mantê-lo salvo de mim a partir de agora?
Já fiz um carinho no seu braço e você, desinteresse. Só ri das coisas que são realmente plausíveis. A conversa é boa e você prometeu um próximo encontro sem dia marcado. Em alguns momentos penso se não seria melhor que você fosse um menino ao invés de ser quase um homem. Me pergunto se não te falta o tempero do descontrole adolescente. Você pode me querer, ou não, eu já me apaixonei.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

"Foram tantas coisas.. Eu me apaixonei pela sua conversa, por sua risada.. Minha primeira paixão foram seus olhos, e eu continuo doido por eles. Teu sexo me apaixonou, e tua preocupação me fez sentir importante e amado por alguém, e isso me fez amar também..
Acho que não acaba por aí, mas eu preciso que você me ajude a descobrir..

Enfim, finalmente achei alguém que se parece comigo, e isso é muito bom.."




Bonitão
" Às quatro de nossa manhã, éramos dois olhando dois, sonhos abertos em quatro íris..
Despertos, suados, mas ainda sonhados. " Bonitão.

terça-feira, 3 de julho de 2012


Hoje ele veio me falar de música. Dos filmes, dos textos, da arte, do rio que corria em sua vida, do medo. Hoje ele veio me falar de expectativas. Dessas que a gente sufoca o outro sem ver, miudinhas, rotineiras, demasiadamente fantasiosas. Pensei no mundo, nos outros, pensei em mim.
Lembrei-me de todos os meus sonhos de adolescente e quantos deles já tinham ficado para trás simplesmente porque existiam expectativas demais, fundamentadas em realidade de menos. Pensei em quantas vezes deixei de lado um relacionamento nesse caminho por simplesmente não ter a força de vontade necessária pra fazer acontecer, em quantas pessoas perdi por não dar valor. A dura verdade é que num mundo onde amar virou sinônimo de coragem, a gente por vezes tem um pouco de ansiedade com o amanhã. Ou a grande palavra do momento: pressa. A gente tem medo de ser enganada, enrolada. Ainda mais atemorizante, a gente tem medo de acabar só no deleite de nossa própria companhia, o que implicaria em liberar do armário escuro e sombrio todos os nossos monstros particulares que tanto relutamos em esconder. O resultado se configura em expectativas demais, derramadas súbita e integralmente em cima de pessoas que, naquele momento, podem não estar preparadas para corresponder. Reticências pontuando frases que mereciam boas vírgulas e um ponto final.
Pensei em caminhos, descaminhos, escolhas. Pensei em quantas vezes culpamos o destino, o universo, Murphy e o karma por uma realidade diferente da que a gente esperava. Em quantas desculpas arrumamos para o comportamento divergente do outro e para tantas atitudes (ou falta delas) para silenciar a dor e a ansiedade que alimentamos em silêncio. Queremos encontrar culpados para um crime que nós mesmos cometemos: a pressa de uma escolha. Nós escolhemos estar ali e queremos que o outro faça essa mesma escolha em um tempo que na verdade é inteiramente nosso.
Clichê, mas a vida é mesmo um rio em constante movimento. Nós, somos apenas navegantes que temos a sorte de as vezes poder escolher a direção, a velocidade e a bagagem que levaremos, que nos instiga a correr o risco do inesperado, ou nos intimida através do medo, limitando nossa trajetória ás margens próximas onde supostamente existe segurança. Se arriscar, significa aceitar o que o rio tem a oferecer de peito aberto, com a consciência tranquila que nada é ao acaso. É saber respeitar os momentos de cheia e seca que a natureza impõe, sabendo que tudo na vida são fases, com estações passageiras feitas para o rio se recompor e seguir inteiro, sem lembranças de viagens passadas, pronto para novas turbulências.
Hoje ele veio me falar de perspectivas. Aquilo que a gente inventa. Pensei no tamanho da bagagem que muitas vezes levamos, na mala cheia de expectativas, frustrações e dores de amores mal curados. Cacos e peças que não fazem mais parte do presente e que deveríamos ter deixado para trás.
Penso sobre passado, presente e futuro. Penso sobre amor e toda sua eternidade no breve espaço de um segundo. E finalmente entendi, que expectativa gera frustração sim, apenas quando depositada sobre ombros despreparados. Preparo exige calma e tempo. Construir vontades também. Porque ir devagar, na maioria das vezes é muito mais rápido.
Hoje ele veio me falar do nosso sentimento. E eu, falei pra ele de medo. Fluimos. Com a leveza de um agora vivido sem pressa nenhuma. 
A afinidade aparece como um algo intruso, ousado e bem-vindo. Minhas besteiras. Tuas gargalhadas de canto de boca. Meus olhares românticos. Teus carinhos. O som da Corinne. Suas brincadeiras. O cheiro de chamego. Confesso que acho engraçado e assustador, quando você fala de coisas pessoais e eu percebo que, no fundo, no fundo, você acaba falando de mim também em tuas frases.
Quando você diz que precisa ir embora, acontece algo entre o quero-que-você-peça-pra-eu-ficar-mais e talvez-eu-não-deva-gostar-tanto-de-você. Abaixo a cabeça e sofro por alguns segundos ao imaginar ficar sem sua presença. Enquanto tenta se esconder atrás dessa fortaleza, mostrando que este pensamento não passa por você. Mas eu admito, estou com aquele receio de me entregar para alguém com sorriso torto, barba e tristes histórias sobre relacionamentos mal acabados.. mulher é mesmo difícil.. mas faz sentido, sim? Muitas várias histórias mal acabadas! Por que seria diferente?
Você pede um café, um apelo, mais um cérebro e mais um coração. Eu digo algo entre estar cansada de controlar minhas vontades, e nem acho que as controlo mais.. e de me ver frágil perto de você, enquanto você parece lá no fundo tão forte. 
Então, eu proponho um novo encontro. Um filme. Um café. Uma volta. Uma tarde inteira ouvindo sua voz. Ou uma noite inteira ouvindo Blues. Qualquer coisa que me faça ver seus olhos castanhos novamente.
Você demorou a me pedir o açúcar e desde que sentamos aqui, te olhei querendo um abraço, um beijo, uma paixão.
Estou sedenta, faminta e em estado incontido de efervescente tesão. Saiba que minha invasão é certa e que não achará abrigo para amenizar o peso magnético do meu peito. Vou meter-me em tudo, sentir seu corpo suado, escorrer quente e cravar-me toda em sua retina, que logo, só refletirá meu rosto e automaticamente turvará tudo que resta. Tomarei um café amargo e, mesmo assim, em minha língua, só restará o seu gosto.
Pela primeira vez na vida, confundi o sal com o açúcar. Quebrei copos, pratos e cozinhas inteiras lembrando os sons que você fez perto do meu ouvido. Olhei para o espelho e me perguntei sorrindo o que você achará do meu novo corte de cabelo. Ansiarei por seus dedos entrelaçados entre meus fios.
Relembrarei arrepiada a sensação causada pela sua barba, que insistirá sempre em roçar na minha nuca. Quando estiver sozinha, levantarei meu vestido, para em minha coxa, rever a marca roxa da sua recente mordida. Seus caninos ainda estarão cravados em meu braço, fincados em minhas costas e escondidos nas minhas lembranças.
Terei sonhos baseados na sua respiração ofegante e nas madrugadas que me deixou jogada sobre a cama, sem forças, enlouquecendo por sentir tanto prazer e ao mesmo tempo, tanto amor. 
Diluiu meus problemas em seu sêmen e em mim plantou momentos tão marcantes que passarei o resto da vida policiando-me para não voltar a me apaixonar por você.

quinta-feira, 21 de junho de 2012




- Vê que horas são? Tenho que ir embora.
Ele, mesmo ainda habitando o universo da preguiça, me puxa pra perto, envolve seus braços grandes em torno de mim, enquanto encaixo minha cabeça no espaço certinho criado pelo vão da sua clavícula direita.
- Deixa eu colocar um travesseiro aqui, pra você não se machucar.
Ele, meio sonolento, puxa a pontinha do travesseiro para deixar o encosto mais confortável para mim. Mal ele sabe que, no mundo, não há lugar que me traga mais aconchego do que deitar naquele corpo – com ou sem osso.
E ele lembra do horário.
- Mas já se passaram quarenta minutos? Para mim não pareceram nem cinco, eu digo, pensando que o relógio não seria tão cruel se soubesse a sensação que eu estava vivendo naquela hora. – Só mais cinco minutos, se não vai ficar tarde.
Sei disso. E sei que, milhares de vezes, dormi muito pouco por causa dos minutinhos a mais, cada um deles vale a pena.  
- Não quero que você vá embora. Só mais um pouquinho, tá?
Ele finge que acredita e, como numa sintonia, viramos. Acho engraçado como não nos importamos em nos virar quantas vezes forem necessárias durante a madrugada. Nosso barato mesmo é deitar colados, juntos, conectados. Se um quer virar pra direita, o outro vira também. Ninguém se importa. O importante é não perder o laço.
Ele puxa meu corpo de encontro ao seu, passa seu braço por debaixo do meu pescoço, ao mesmo tempo em que tiro os cabelos da nuca, para que ele possa encaixar seu rosto nela sem pinicar. A respiração dele na minha nuca sempre foi pra mim uma forma de carinho. O ar quente me esquenta e aumenta aquela preguicinha gostosa. Mas hoje é terça-feira. Terça com cara de sexta, porque amanhã é praticamente um feriado. Tem espaço para preguicinhas gostosas. Fiquei me lembrando como as noites com ele são boas, ficar colado sem fazer absolutamente nada por horas a fio, ouvindo música boa, ganhando e fornecendo carinhos.

- Preciso ir, daqui a pouco vai amanhecer.
É uma pena. É uma pena que tenha passado rápido. É uma pena você não poder dormir até tarde aqui comigo. É uma pena eu não ter sua presença sempre que dá vontade. As poucas horas de sono que eu teria ganham importância pequena, diante daquelas horas de paz e de aconchego. Encaixo meu rosto no pescoço dele, respiro fundo, como que pra guardar o cheiro dele dentro de mim. E fico pensando, ainda sem coragem de deixá-lo ir, que todo mundo precisa de um aconchego desses. O aconchego deixa a vida mais quentinha.
Ele se despede com um beijinho depois daqueles beijos que transbordavam vontade. As vezes completo com um comentário falando que adorei a companhia, mesmo se eu não falar, ele sabe.
E eu fico ali, com a energia recarregada e cheia de coragem de enfrentar a manhã seguinte, pensando que a coisa que a gente mais precisa na vida é aconchegar, e se deixar aconchegar.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

"Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando."
Pablo Neruda

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Quero

Nunca achei que fosse me encantar tanto pelo que parece proibido, talvez se pertencesse a qualquer outra pessoa, eu nem repararia.


A verdade é que, com você, não existe detalhe que não importa, seja ele correto ou não.
Então, te digo que quero.


Quero muito mais madrugadas ao seu lado e fingindo acreditar nas suas promessas de “sou apaixonado por você”. Talvez tenha faltado o "só" entre o apaixonado e você, talvez não.. Nesse momento eu to acordada, sonhando ou não, eu amo me deixar crer nas suas palavras.


Quero também mais do seu ar esquentando o meu ouvido, mais das suas mãos habilidosas que navegam com uma perfeição que ainda me espanta entre carinho e pegada, mais do seu corpo pesando deliciosamente em cima de mim.


Quero mais chances de tomar café ao seu lado – mesmo que você reclame do gosto amargo na minha boca, do café puro que gosto.


Quero muito mais da sua mão que sai do volante e vem pra minha coxa, dos seus sorrisos quando faço cafuné na sua cabeça enquanto dirige e – com certeza – muito mais músicas que ouço ao seu lado. E ser a melhor companhia pra escutá-las.


Quero ouvir muito mais das suas maluquices e me surpreender e, agir como se eu achasse um absurdo, e só. Enquanto por dentro estou me enchendo de admiração – afinal, todos deveríamos fazer o que desse vontade, seja uma maluquice ou não. 


Quero garrafas de vinho abertas e muito mais conversas daquelas que surgem quando você já não está mais medindo suas palavras.


Quero mais da sua vontade de ter o futuro que tanto planeja. Não interessa a dificuldade de se concretizar. Só interessa que você o quer, logo, terá. Enquanto isso, torcendo pelo seu sucesso, reparo no brilho que surge nos seus olhos.


Quero sonhar muito mais com realizações – mesmo que não saibamos se estaremos juntos até consegui-las. Quero compartilhar com você mais planos – e perceber que você me adora inclusive por isso. Quero planejar muitos outros detalhes com você – viagens a lugares lindo que precisamos conhecer. Juntos. E se não houver paixão até lá, que haja carinho e lembranças. 


Quero degustar mais ainda cada centímetro do seu corpo. E poder oferecer o meu em troca. Quero descobrir mais detalhes, mais cantinhos inexplorados. Quero te presentear com mais sensações e dispensar todas as palavras – quero ler mais os seus sinais, que são tantos.

Quero, acima de tudo, que sigamos aprendendo diariamente que nada é eterno e que a felicidade está no trajeto, não só no destino. E que não importa o que acontecer nessa estrada louca da vida, que possamos trazer dentro da gente a certeza de termos vivido um sentimento sincero e de termos tido a dávida de descobrir qual a sensação de tornar a pessoa, o nosso suspiro. E que, não importa o que aconteça, que você nunca deixe de lembrar de mim quando olhar pro "Can't quit the blues". E que você não esqueça de como conseguimos provar pra gente mesmo que parcerias podem ser melhores que namoros. E, por fim, que a felicidade seja sempre a sua melhor parceira, mesmo que eu não possa estar junto pra aplaudir essa união.

terça-feira, 22 de maio de 2012



Querido,
Esta noite sonhei novamente com você. Seus brilhantes olhos me pediam caridosamente para não colocar meus pés gelados de frio na batata da sua perna, enquanto virava para o outro lado da cama embolado nas cobertas. Era engraçado ver sua carinha de resmungão enquanto me puxava com sua delicadeza peculiar para o aconchego dos seus braços.
A cada novo sonho você parece diferente e cada vez sinto você mais longe de mim. É como naquela série de TV em que o príncipe não se lembra da sua identidade, mas de alguma forma sabe onde está o amor da sua vida. Você sabe onde me encontrar, mas se perde demais pelo caminho.
Sinto sua falta. Cada dia mais. E fico me perguntando se a gente precisa mesmo perder alguma coisa pra ganhar algo melhor em troca. Cinderela perdeu um sapatinho, eu já perdi vários pedaços desse meu coração pelo caminho, mas tenho certeza que você vai encontrar todos eles e montar peça por peça como se fosse um quebra cabeça desordenado que precisa apenas de um bom jogador para encarar o desafio.
A noite é curta para um querer tão intenso e no sonho você me desperta com um desses sorrisos lindos e cativantes que a gente só vê em propaganda de pasta de dentes. Você me convenceu: eu compro o produto. Eu levo as coisas boas e as ruins também, porque de uma forma ou de outra eu sinto que esse foi o pacote que eu esperei por toda minha vida. Um sorriso, esse era o sinal. Eu podia me aproximar, me enroscar, me aninhar até que o dia se fizesse presente e nos obrigasse a levantar. Porque tempo hoje é algo quase tão precioso quanto comer, quando não se tem parece que o vazio dentro da gente fica cada vez maior. Consigo ouvir minha respiração e o ruído da saudade.


Estou pensativa, analisando se em algum lugar do planeta você também fecha os olhos quando escuta a palavra amor. É quase dia dos namorados e todo ano espero ansiosamente pela sua chegada, arrumo a casa e a bagunça do coração, coloco os pratos sujos, os copos lascados e as mágoas numa gaveta bem escondida que é pra não estragar o jantar, e junto com as taças novinhas de vinho coloco um frasco vazio que é pra encher de amor quando você se sentar ao meu lado.
A essa altura já tenho dúvidas do que é realidade e o que é fantasia. Me aproximo de você, ali, deitado do outro lado da cama, e no momento do tão esperado beijo, aquele que só acontece com a gente. Eu simplesmente acordo.

Queria que você fosse mais real do que sonho. Afinal, quando um sonho se realiza, é muito melhor.

E fica aqui o meu futuro amor pra te dar.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

A culpa é de quem?

É engraçado como quando a gente tá triste, a gente sofre, sente nosso coração apertadinho, miudinho.. ao mesmo que quando estamos transbordando de amor, sentimos o coração esquisito, querendo explodir, sendo assim, está também apertado, já que não é espaço nesse momento pra sua grandiosidade. Um instante. Quando a gente sofre, sofremos porque estamos transbordando de amor e esse amor por alguma razão não está sendo vivenciado. Se não houvesse o amor, não estaríamos sentindo toda essa dor. Ou seja, a culpa é sempre dele.  

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Pele



Durante todo o dia ela espera pela noite para ser convidada pra sair. Se perder na multidão.. Não há necessidade de falar, sabe.. a música esta tão alta, que parece impossível entender. Curte a música naquele instante.
Até que o sono a leva para uma manhã cheia de dúvidas.


Você pode se sentir como parte de algo se você faz parte da cena. Você pode fazer sua vida ficar bonita por fora com um sorriso. Bem, você pode sair deste vestido de festa, mas você não pode sair da sua pele.
Sua alegria ainda vai ser onde seu coração está. Diz a si mesmo que ele não pode ser sozinho porque ele nunca está por conta própria. Nada, ninguém é feliz sozinho. Pode não parecer, mas de noite entre quatro paredes, com a cabeça doendo, o telefone permanece em silêncio. Até um dia.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Retrato em branco e preto - modificada


Sei que ali sozinho
Eu vou ficar, tanto pior
O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu quero tanto
Evito tanto
E que no entanto
Volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos velhos fatos
Que num álbum de retrato
Parece inovar
Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer
Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever
Pra dizer que isso é pecado
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E você sabe a razão
Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração

Estupor - Paulo Leminski

esse súbito não ter
esse estúpido querer
que me leva a duvidar
quando eu devia crer

esse sentir-se cair
quando não existe lugar
aonde se possa ir

esse pegar ou largar
essa poesia vulgar
que não me deixa mentir


quinta-feira, 26 de abril de 2012

Pedaço de carta

... Caminho em frente pra sentir saudade
Ando em frente por sentir vontade


 Não espero resposta, e no fundo nem sei ao certo minha intenção com esta. Só queria e precisava dizer que gosto, antes que o tempo em que fizesse algum sentido falar, passasse.
Talvez você jamais tenha sido meu, e talvez eu nunca tenha deixado de ter esse pensamento, mesmo assim tive vontade de viver todos os dias com suas palavras. Só quero deixar a certeza de que em vários momentos eu fui sinceramente sua. 

Não podia deixar o silêncio passar sem te contar o que você já sabia.

Beijos.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Eu te resgato no bar, antes da madrugada acabar, quando seus olhos já estão bem espremidinhos e a boca fala com preguiça. Eu te carrego pra casa, você cheira a alegria que só o alcoól e o cigarro prometem.
Ziguezagueamos pela calçada com destino ao meu apartamento. Só me lembrarei da garoa no dia seguinte, ao flagrar a poça que se forma. Também só me lembrarei do barulho alto que a porta faz, quando você for embora para quem sabe voltar, caso você queira estar perto numa noite dessas.

A gente conversa, mesmo sabendo que o álcool roubaria parte da sua memória, incapacitando-o de lembrar do que me contou. Nunca nos desentendemos quando as pautas esquentam. E assim, eu estava feliz.

Você não quer me beijar e sempre muda de assunto quando não quer responder uma pergunta. Até questionou porque eu não te agarrava, tola, respondi, tentei um beijo, e assim você recuou. Atitude quase inexplicável. Menos charme... sou intensa, sou beijo, apertos, vontades. Então desfaço o pensamento de desejo, volto para o seu dizer, fico atenta, você está desabafando! Momento raro, me sinto privilegiada. Poderia me sentir especial?

A madrugada passa e chegam os sussurros. Seu olhar não me deixa guardar o fato de adorar-te.

Quando um filete de sol surge na parede, você se afasta, senta na cama, se despede cansado e, embora eu tenha a mania de te enquadrar pelo olho-mágico, só pra saber como você é quando não somos, prefiro quando você me deixa em branco. Gosto do silêncio que fica depois que bate a porta.
Há parcerias que se esgotam no quarto.

O gosto do café que tomo no meio da tarde é interrompido por uma lembrança de ontem, você me pedindo para abraçar-te. Posso até te ligar, mas te esqueço por uma brisa que coreografa o meu cabelo, impedindo a imagem que idealizei. A brisa passa, você volta.


Longe dos afagos noturnos, nosso papo as vezes é truncado. Você me responde o que não perguntei e me repreende sem querer, por algo que eu não consegui esconder. Pequena maldade. É que.
  Eu gosto da conquista, mas não gosto de jogos. A coragem da palavra dita sem previsão de resposta, me encanta.

quarta-feira, 28 de março de 2012

E nesses dias, frágil, não deixo a doçura. Sinto uma ausência, ausência essa que me deixa triste. Ausência não sei de que. Mas que me falta algo, falta. Penso que pode faltar um amor. Conhecido ou desconhecido? Se conhecido é a ausência dele que sinto. Se novo, me falta. Quem sabe, quando ele chegar, minha fraqueza já vai ter passado, e assim, eu serei pura doçura para ele amar? Ou com sua chegada, ele faça essa tristeza, ou fraqueza, passar. Já não sei qual leva à outra, ou se são as duas uma só. A doçura mora em mim, me fazendo amar sempre, frágil ou não. As vezes até fico amarga! Mas por culpa dela, da doçura. Na ausência, eu ainda amo. E talvez, até ame mais. O que falta é um amor para me amar. Contudo, eu não estaria triste..

sábado, 17 de março de 2012



- Então, decidiu? Você não vai comprar o livro?


Ele diz isso quase como um desafio. Como se eu não tivesse coragem... Mas que me afeta. E no fim escolho um outro e nem lhe dou resposta. Não dou a menor bola pra ele. Ignoro ele. Não gosto de responder e dar satisfação aos meus pais, imaginem a esse aí! Ando livremente entre algumas prateleiras. Depois resolvo ouvir um CD de James Blunt. All the lost souls. Coloco os fones de ouvido e escolho a música que gosto. Me encontro assim, refletida naquele espelho da pilastra. Começa a música. Sorrio. Sozinho, independente, com um dia todo pra mim... Ah, que bom. Agora começa. Shine on. Eu gosto quando dizem: "Are they calling for our last dance? I see it in your eyes. In your eyes. Same old moves for a new romance. I could use the same old lies, but I'll sing, Shine on, just, shine on!". É verdade mesmo. E assim fecho os olhos. Me entrego e percebo que balanço um pouco... E acompanho o ritmo. Mas quando reabro os olhos, vejo um homem refletido no espelho que me olha. Tem os olhos escuros, jabuticaba, intensos, os cabelos pretos, é alto, magro e mais velho do que eu. De repente, ele sorri para mim. E sinto um aperto no coração. Abaixo os olhos e sinto falta de ar. Mas o que está acontecendo? E quando levanto os olhos novamente ele ainda está ali. Agora os seus olhos me parecem ainda melhores. Vira a cabeça de lado e continua olhando pra mim, assim, com aquele sorriso lindo e um olhar metido. Parece um pouco convencido. Eu não gosto daqueles muito metidos. Mas é tão bonito. Fiquei vermelha, eu acho. Abaixo os olhos novamente. Mas o que está acontecendo? Quando levanto os olhos, ele não está mais ali. Sumiu. Será que foi um sonho? Um sonho lindo. 

quinta-feira, 15 de março de 2012

Montanha Russa


Já o ser inquieto não 
está em nenhum lugar 
porque a inquietação já 
é uma forma de não 
estar nunca estar


que se dirá então 
do ninguém que mora 
em mim por não ter não 
onde morar 
na terra no ar no mar


quem imagina não 
está em si somente 
nem somente onde está 
está de repente 
sem cuspir nem porvir 
numa montanha russa 
só pelo prazer 
perpendicular 
de subir e cair


Ó meu distante amor 
quando eu passar espera-me 
na tua porta não 
te poderei beijar não 
só terei tempo para 
na paisagem em fuga 
entre areia e sal 
te deixar na mão 
uma flor


Espera-me na porta 
se estiveres na lua 
maria azul luz clara 
quando eu passar como 
um peixe voador não 
terei tempo para 
te ofertar sequer 
uma flor


só terás tempo de dizer 
como a mulher de Arvers 
que louco é este 
que chegou da terra e não 
me trouxe sequer 
uma flor



Cassiano Ricardo

quarta-feira, 7 de março de 2012

    • Tudo é incerto e relativo
      nessa vida:

      também eu
      posso ser tão sua

      quanto você jamais
      foi meu.
 
E ele chegou com seus óculos de grau. Foi dele o primeiro gesto. Tocando minha mão, me perguntou como andava a vida.

E eu queria saber responder. Eu poderia, na verdade. Mas é que o mundo gira velozmente agora, entende? E o que eu falo nesse momento, já não é mais o que eu falaria há instantes. Existe tanto a ser dito. Eu não gostaria de, simplesmente... Entende? Não é tão simples assim apertar e acalmar tudo isso num só peito, sem fugir. E eu não gostaria nem de fugir. Quero ficar aqui. O mal que é bem, e não se entende, ou não se vê. Não é simples, entende? E se a palavra escapa, e se o vento fecha olhos e ouvidos, e se ele leva tudo pra outra ponta da margem do sentido? É muito perigosa essa vontade de falar. É preciso autocontrole. Mas, com você, há crianças espoletas despreocupadas e velhos com experiência argumentando cada lado da minha criação e, quem sabe... Entende? O real está além do que se vê, ou não. Eu precisava me perder pra não te perder, e nos perderia?

- Tudo bem... E a sua?