"A poucos minutos de encarar você e dedilharmos a melodia mais difícil: a última. O coração batuca. Quase estoura a garganta seca, que teme errar a nota. Unhas intranquilas teclando em cima de mesa. Seu olhar em pause, regendo a minha respiração. Qual o tom certo para uma despedida?
Porque desafinei, sua corda arrebentou. Você cortou o som e me olhou grave. Rasgou nossa partitura, brecou o ritmo. Eu não soube andar na sua cadência. Eu não leio pessoas de ouvido. Preciso de mais de cem compassos para me colocar em sintonia, de instrumentos para meu ensaio.
A despedida deixou um silêncio chiando. Uma gravação do seu timbre em play no meu travesseiro. Um eco orquestrado do seu rosto arranhando meu sono.
As luzes se apagam. Deixamos o palco sem aplausos. Sem solfejar a vontade de um bis."
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